segunda-feira, 26 de agosto de 2013
- não há tempo, corra!
(passos ligeiros e desesperados se ouvem)
e a chuva continua a cair,
indiferente,
quase maligna e sacana
a rir do pobre vivente
que corre, corre, corre...
contra o tempo,
contra a morte,
contra a vida,
contra a própria sorte
seus olhos não mais vêem
nem brincam, nem passeiam,
apenas seguem os passos...
sua boca está doce, doce demais
que chega a corroer
pois o gosto da vida apressada
é como açúcar, pobre e podre
suas mãos... coitadas!
aleijadas, alijadas,
com toques imprecisos
e perdidos em névoa
sabem da pele
e do calor quase nada
corre, corre, corre
e enquanto corre
esquece o sabor do vento
e esbarra no Tempo:
- olá, senhor! que prazer!
(diz o Tempo)
- cai assustado, ajoelhado
e nem pode responder,
os lábios trêmulos,
olhos fissurados,
e saliva doce, envenenada,
deixam-no prostrado -
- olá senhor! bom lhe ver! (ri o Tempo)
corra, corra, e deixe-me rir de você!
(ri forte o Tempo)
e ele corre...